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Os perigos da falsa simetria

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Texto publicado por Conrado Sousa no Feed principal do Grupo Cidadania em Foco – Vinhedo/SP

 

Simetria é semelhança entre duas metades. Falsa simetria é quando uma pessoa compara duas coisas muito diferentes, envolvidas numa relação de poder completamente desequilibrada, e as julga semelhantes. Vou dar alguns exemplos: uma mulher está sendo estuprada e num golpe de sorte consegue matar o agressor. Os dois, vítima e agressor, não estavam em equilíbrio de poder. Mesmo assim, o adepto da falsa simetria julgará rapidamente: tanto a mulher quanto o estuprador estão errados, porque estuprar e matar são coisas erradas e os dois erraram igualmente. Outro exemplo: uma criança que é vítima de bullying coletivo e de repente acerta uma pedrada na cabeça de um agressor. O adepto da falsa simetria não quer saber quem começou, o que fez e nem o contexto: a falsa simetria é ignorante, nesse sentido, porque nunca quer saber nada. Só julga e julga mal. 

Na política, a falsa simetria aparece nos conflitos mais tensos dos nossos dias. Exemplo: entre homens e mulheres, entre brancos e negros, entre direita e esquerda, homofóbicos e gays. O adepto da falsa simetria condena a Lei Maria da Penha, porque protege só mulheres. Quer simetria para os homens, ignorando que as mulheres são 99% das vítimas de violência doméstica e não estão numa relação de poder equilibrada com os homens. A falsa simetria dá pulos de raiva quando vê uma camisa escrito “100% negro”, achando muito legal, achando que está abafando no discurso “ah, então vou fazer uma camiseta escrito 100% branco também!”, mesmo que isso evidencie apenas ignorância histórica do contexto em que um negro usa uma camisa de afirmação étnica.

Outra faceta da falsa simetria é a capacidade de ser usada como instrumento político. Em vez do PT se defender das acusações de corrupção, diz que o PSDB fez e faz igual. Apesar de ser verdade, a falsa simetria aparece quando consideramos que um tem a chave do cofre, da sala de armas, a caneta presidencial, rede de rádio e TV quando quiser, maioria absoluta nas duas casas legislativas, indicação de maioria absoluta do STF, 3 mandatos consecutivos e o maior fundo partidário e de financiamento de campanha, enquanto o outro tem, no momento, só o gogó. Ao dizer “político é tudo igual”, estamos servindo aos interesses de uma determinada força política (a mais poderosa, que tende a continuar no comando enquanto o povo achar que são todos iguais), por meio do uso instrumental e consciente (por parte dos marqueteiros de partido) das falsas simetrias. 

E em Vinhedo, a falsa simetria aparece? A gente vê coisas completamente diferentes serem julgadas semelhantes? A gente vê grupos políticos de tamanho e poder completamente diferentes serem julgados de maneira semelhante? A gente pratica falsa simetria ao reclamar da vítima ou culpá-la pelo que sofre? A gente procura saber o contexto em que uma determinada ação/reação se deu? Ou a gente usa o velho e vazio “é tudo farinha do mesmo saco”? 

Às vezes, praticamos a falsa simetria sem querer, por não conhecer detalhes dos assuntos/objetos em comparação. Acontece com todo mundo. Mas quando a gente tem a informação, ou o acesso a ela, e continua praticando, aí deve ser encarado como tática política. Cuidado, pois, com os que têm envidado esforços para “demonstrar” que “os dois lados estão errados, vamos nos unir para o bem de Vinhedo!”. Parece bonito falar isso, e é legítimo que pensem e digam. Saiba apenas que sua falsa simetria atende a um interesse de poder político, foi constatada e será denunciada.


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